Liberação Miofascial e Cicatrizes

Quem já foi meu aluno em algum curso de liberação miofascial, sabe que há anos insisto na necessidade de darmos mais atenção às cicatrizes que nossos pacientes apresentam. Na avaliação antes de iniciar qualquer atendimento, uma das minhas primeiras perguntas é sobre a existência de alguma cicatriz, em qualquer parte do corpo e em qualquer […]

Quem já foi meu aluno em algum curso de liberação miofascial, sabe que há anos insisto na necessidade de darmos mais atenção às cicatrizes que nossos pacientes apresentam.

Na avaliação antes de iniciar qualquer atendimento, uma das minhas primeiras perguntas é sobre a existência de alguma cicatriz, em qualquer parte do corpo e em qualquer fase da vida. Mesmo que seja algo muito distante no tempo.

Uma cicatriz, de cirurgia ou de queimadura, com certeza pode ser a origem de muitas dores e restrições de movimento de nossos pacientes, pois no processo de cicatrização, estes tecidos não voltam à forma anterior ao trauma. Essa mudança no tecido fascial com certeza causa danos em diversos aspectos.

Eu já trazia isso comigo por observação, por experiência em atender pessoas com diversos tipos de cicatrizes.

Mas este conceito se tornou ainda mais forte em meu trabalho após o Congresso Mundial de Fáscia em que tive a honra de ter uma aula muito especial com Jan Trewartha. Essa aula simplesmente me deu respostas claras de como eu estava conseguindo resultados em meu trabalho com liberação miofascial em cicatrizes.

Uma cicatriz com certeza pode trazer vários problemas como:

Restrições em amplitude de movimento

Desconforto em movimentos

Adaptações de movimento e postura

Dores em movimentos que antes eram mais tranquilos

Dores locais ou irradiadas

Para compreendermos como isso ocorre, precisamos pensar em como esta grande rede que é a fáscia foi cortada durante a cirurgia. De forma agressiva, tudo o que era um conjunto equilibrado e comunicado de repente passa a estar separado.

Neste processo de regeneração, tudo vira um caos, numa luta do corpo para parar o sangramento, religar os tecidos, enfim, uma busca de reordenar tudo novamente. Mas este tecido não volta a ser exatamente como era antes, organizado, fluido, em sintonia perfeita com todo o resto do organismo.

É normal esta regeneração deixar aderências com periósteo, com músculos, com órgãos, e com isso, o corpo perde mobilidade, perde fluidez, os líquidos internos deixam de fluir como antes. E isso tudo afeta o corpo de várias formas.

Também podemos ter estruturas como nervos pressionados e estrangulados por estas fáscias em desordem, que podem gerar dor local ou até mesmo irradiar para pontos bem longe da cicatriz.

Como dizia Feldenkrais, muitas vezes a dor nasce longe do ponto da dor.

Em meu último curso prático, atendi a um aluno que tinha sofrido uma cirurgia para retirada da vesícula, apresentando uma cicatriz bastante grande, pois teve de refazer a  cirurgia após algumas complicações.

Na avaliação percebemos que ele apresentava restrição de movimento do ombro do lado direito, mesmo lado da cicatriz. O mesmo tinha dificuldade de elevar os braços acima da cabeça e também de extensão total do cotovelo deste lado.

Após a liberação da cicatriz o movimento já teve um aumento bem significativo. Mas pensando em como a fáscia é uma grande rede, liberamos também na sequência áreas que estavam há um bom tempo com restrição de movimento devido às adaptações pós cirúrgicas.

Desta forma, demos atenção ao grande dorsal e bíceps braquial. Após esta rápida liberação destas áreas, fomos surpreendidos por um aumento muito grande de amplitude de movimento do ombro direito do aluno.

Portanto, fica aqui uma dica: preste muita atenção às cicatrizes de seus pacientes, avalie restrições de movimento, dores locais e irradiadas e mesmo reclamações de órgãos doloridos ou com mau funcionamento.

Comece sempre a liberação pela cicatriz. Com certeza você vai se surpreender com os resultados e seus pacientes irão agradecer.


Rogério Luis Müller

CREF 000805-G/SC

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